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Sistema elétrico à beira do colapsoDesligamento preventivo da energia evitou colapso em usinas, diz Aneel. Apagão atingiu áreas de 11 Estados e o Distrito Federal na tarde de ontem. Ainda de acordo com a Aneel, as contas de luz terão reajuste 'extraordinário' em março.Julia Borba | FOLHA DE SÃO PAULO
20 de janeiro de 2015 às 15:14
O diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) Reive Barros afirmou nesta terça-feira (20) que o desligamento da energia elétrica que afetou áreas de 11 Estados e o Distrito Federal nesta segunda-feira (19) evitou um colapso nas usinas. Segundo ele, quando há problema de queda na frequência, como ocorreu ontem, o sistema fica preparado para fazer uso de um esquema de proteção que retira cargas previamente estudadas da rede, evitando que haja "um colapso com as usinas". "Antes disso, houve a operação com o ONS (Operador Nacional do Sistema) no sentido de, preventivamente, tirar algumas cargas para preservar operação. Foi um processo manual e não automático", explicou. "Uma coisa é desligar com controle. Outra é perder o controle e todas as usinas. O desastre é maior." Foram atingidos São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Distrito Federal. Para André Pepitone, também diretor da Aneel, a interrupção deixou claro que "o sistema de proteção funcionou". "Restabelecer um sistema desses em uma hora é muita engenharia e muita inteligência empregada no processo. A gente pode dizer que o que foi feito está funcionando", acrescentou. O caso, no entanto, chamou atenção para o "período de adversidade" vivido no setor elétrico, em que o consumo se mantém elevado, por causa do calor, e os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas seguem baixos. "Com certeza esse ano vai exigir atenção. Os reservatórios estão na faixa de 18,7% de armazenamento", disse. O diretor Reive Barros frisou que o "horário de ponta", como é conhecido o período de maior consumo de energia, vem ocorrendo por volta das 15h, justamente por causa do calor, quando a população aumenta o uso do ar-condicionado. "Isso ocorreu ano passado e agora está se repetindo", afirmou. "Como você tem um sistema interligado, com transferência de carga de um subsistema para outro, as linhas estão operando em seus limites de capacidade e tem que ter cuidado muito grande. Administrar isso a cada momento", destacou. O relatório final sobre o apagão ainda está sendo finalizado pelo ONS. Quando estiver pronto, ele será encaminhado à Aneel para que tome providências caso haja alguma punição a ser aplicada. Ainda de acordo com a agência reguladora, o corte de carga realizado ontem diminuiu cerca de 5% da energia que vinha sendo oferecida no país. HISTÓRICO Em seu relatório técnico divulgado na última sexta-feira (16) com metas e diretrizes para operação do sistema elétrico ao longo desta semana, o ONS ressaltou que havia risco de "perda de carga" durante a execução de intervenções na rede. Essas "contingências", classificadas como "simples", teriam efeito local e não afetariam o Sistema Interligado Nacional como um todo. Ou seja, não causariam um apagão generalizado. Mesmo assim, essas chamadas "contingências" somente seriam liberadas "em períodos mais favoráveis, ou seja, nos horários em que a ocorrência de uma eventual contingência resulta no menor montante de perda de carga", segundo destacou o documento. As chamadas "intervenções" são, segundo o ONS, reparos programados na rede por agentes de distribuição, geração ou transmissão. O procedimento serve para que sejam feitos serviços na rede elétrica justamente para garantir a segurança dos equipamentos e o atendimento de metas. Na última semana, o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) recomendou que os consumidores reduzam seu consumo. Segundo ele, a medida seria necessária já que a energia está custando mais caro em 2015. "Não é racionamento. Nós temos energia. Ela existe, mas é cara", afirmou ele na quarta-feira (14). TARIFAS A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) adiou a aprovação, prevista para esta terça-feira (20), de um aumento bilionário sobre as tarifas dos consumidores, repassando os gastos que o setor terá ao longo do ano. Mas, de acordo com a Aneel, conta que deverá ser repassada para o consumidor de energia pode chegar aos R$ 23 bilhões e ainda ter de ser corrigida pelo efeito de aumento no preço dos combustíveis, anunciado na segunda-feira (19) pelo governo. O presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), Nelson Leite, disse, na última terça-feira (13), que praticamente todas as empresas de distribuição de energia devem pedir ao governo para realizar um reajuste extraordinário em suas tarifas. Esse aumento, segundo ele, deve começar a ser percebido pela população em março. "Eu acredito que todas deverão pedir, a não ser a empresa que tenha reajuste extraordinário em fevereiro, essa não vai precisar", afirmou. Das 64 distribuidoras, seis alteram seus preços em fevereiro, segundo calendário da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). São elas: a CPFL Jaguari (SP), CPFL Mococa (SP), CPFL Santa Cruz (SP), CPFL Leste Paulista (SP), CPFL Sul Paulista (SP) e a Energisa Borborema (PB). Em todos esses casos, os reajustes devem ocorrer ainda na primeira semana de fevereiro. Em todos os demais casos, o ajuste adicional, que também deve ser aprovado em fevereiro, servirá para que essas empresas comecem a recolher dinheiro suficiente para pagar o aumento no preço da energia de Itaipu (que subiu 46% neste ano) e os gastos da conta CDE (Conta de Desenvolvimento Energético). Com a aprovação em fevereiro, o consumidor começará a pagar uma conta de luz mais alta em março. Leia mais em: Entenda melhor a crise de energia: Falta de planejamento deixa sistema brasileiro de energia no limite Ouça aqui a entrevista concedida por Mario Veiga, presidente da consultoria PSR, à Rádio CBN. |