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Prateleiras vazias na VenezuelaA via crucis para comprar comida na Venezuela em meio à crise. Desabastecimento de produtos básicos nos supermercados aumenta a tensão. Os bens mais procurados são: leite, café, arroz, papel higiênico, açúcar, sabão e azeite de milho.Alfredo Meza | EL PAÍS
13 de janeiro de 2015 às 11:29
Os funcionários do supermercado Unicasa do bairro Cumbres de Curumo – área de classe média alta onde residem muitos militares da reserva e da ativa pela proximidade com Forte Tiuna, a principal fortaleza militar da Venezuela – viveram uma semana muito tensa. Na quarta-feira chegou o leite em pó, um produto que no país é tão escasso como água no deserto. Imediatamente, avisados pelo celular, clientes dessa e de outras regiões de Caracas formaram uma longa fila para comprar quatro pacotes, o máximo permitido.
Em um esforço para tentar garantir que os bens mais procurados – leite, café, arroz, papel higiênico, açúcar, sabão e óleo de milho – cheguem a todos, os supermercados regularam sua venda, mas a demanda supera qualquer previsão. Então, com a escassez, vem o desespero. Na quarta-feira uma senhora que levava os quatro pacotes de leite caiu no chão empurrada pela turba que corria para as prateleiras onde estava o insumo. Um homem aproveitou para tomar os pacotes dela. Uma moradora ria enquanto outros o recriminavam: “Mas acontece que isto é consequência da situação em que vivemos. E ainda vamos ver muita coisa”, defendia-se.
Em Catia, um bastião chavista da zona oeste de Caracas, uma multidão saqueou na quinta-feira um caminhão que transportava fraldas, outro produto muito procurado atualmente, enquanto esperava em fila para entrar em uma das lojas da rede atacadista mais importante do país. Na mesma quinta-feira, chegou ao supermercado de Cumbres de Curumo a farinha de milho pré-cozida – a base para preparar as arepas, o café da manhã tradicional venezuelano – e várias caixas de fraldas. Tampouco foi bastante para todos. Os que não tiveram sorte pensavam que o encarregado do supermercado tinha escondido os pacotes. A polícia do município aproximou-se para pedir a ele que, se as suspeitas estivessem certas, reiniciasse a venda. “Poderia dizer a eles que entrem no depósito para se certificarem de que não estamos escondendo nada”, disse. Depois de comprovarem que não havia mais produtos, os clientes partiram para outros locais de Caracas para continuar com a caça às mercadorias em falta. Os bens mais procurados são: leite, café, arroz, papel higiênico, açúcar, sabão e azeite de milho O desabastecimento sempre é mais acentuado no início do ano, mas as cenas de desespero e as longas filas nesta época do ano, que se repetem em quase todo o país durante várias horas por dia, são novidade. Dezembro costuma ser um mês de férias nas fábricas e a falta de produção é compensada com as reservas. Entretanto, desde 2013, para aliviar a escassez, o Governo obriga as empresas a usar todo seu estoque e considera as reservas uma forma de monopolizar. As leis aprovadas pelo governo punem o empresário com prisão ou eventual expropriação do negócio. Dessa maneira, a Venezuela chegou a 2015 em situação crítica e com um ambiente muito tenso nos supermercados. Para evitar que a violência se espalhe, as grandes redes distribuem os alimentos escoltados por seguranças privados e pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB). Ocorreu na quinta-feira em um supermercado do bairro Valle Arriba, uma colina onde estão edifícios de luxo e a Embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Ao meio dia chegou o leite líquido e repetiram-se as cenas dos últimos dias: gente correndo desesperada para levar o máximo permitido (seis unidades), desespero e reclamações. Em menos de uma hora não havia mais leite. Dentro do local outras pessoas formaram uma fila para esperar a entrega de uma quantidade limitada de papel higiênico. Quatro oficiais da GNB, com armas longas, vigiavam os clientes. O Governo obriga as empresas a usar todo seu estoque e considera as reservas uma forma de monopolizar. As leis punem o empresário com prisão ou eventual expropriação No início da semana o Governo pareceu minimizar as filas, mas por volta do final da semana preferiu reconhecer o desabastecimento e salvar sua responsabilidade argumentando que o setor produtivo nacional trava “uma guerra econômica” contra os governantes com o objetivo de provocar desordens que levem a sua eventual renúncia. O chefe de Governo de Caracas, Ernesto Villegas, acrescentou mais polêmica ao assegurar que os “filhinhos de papai” infiltraram pessoas para incitar os saques. Na sexta-feira, o vice-presidente de Segurança e Soberania Alimentar, Carlos Osorio, recordou no palácio de Miraflores que as leis venezuelanas impedem a suspensão de operações de produtores e distribuidores de alimentos. “Se não querem trabalhar, entreguem a fábrica a quem quer”, disse. Enquanto isso, pelas redes sociais começaram a circular rumores de uma convocatória para uma paralização nacional a partir de hoje, mas a coalizão oposicionista Mesa de la Unidad não aderiu. “É um plano arquitetado pelo Governo para desviar a atenção do drama da escassez”, disse seu secretário geral, Jesús Torrealba. Leia mais em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/12/internacional/1421076238_825358.html |